Velocidade da saúde

Edicleide Lacerda começou a correr nas ruas de Paraisópolis há 29 anos. A comunidade mudou de lá para cá, mas esse hábito persiste desde então na rotina da paraibana, hoje com 49 anos. “Sempre gostei de fazer esse exercício”, relata a empregada doméstica. Entre os demais esportes, a corrida se destaca pelo baixo custo e por poder ser praticada em quase qualquer lugar – de ruas a parques, passando por pistas, esteiras ergométricas e praias.

“A corrida é um esporte democrático”, reforça Karina Hatano, médica do esporte do Hospital Israelita Albert Einstein e do Centro de Traumatologia do Esporte da Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp. Quase 25% dos brasileiros afirmaram praticar corrida ou caminhada com alguma frequência, de acordo com o relatório “Práticas de Esportes e Atividade Física”, elaborado pelo Ministério do Esporte com base em dados de 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.

Algumas ruas de Paraisópolis são agitadas, o que exige cautela com automóveis e outros pedestres. Mas dá para encontrar rotas mais tranquilas ou procurar praças e parques próximos. Edicleide acha que a corrida é uma modalidade que deveria ser mais valorizada na comunidade. “Eu recomendo. Onde eu corro, dá até para se alongar nos equipamentos que estão à disposição”, fala. Essa é a praça Vinicius de Moraes, localizada no Morumbi.

Benefícios dos pés à cabeça

A corrida mexe positivamente com vários aspectos da nossa saúde. Alguns deles são:

• Perda de peso: esse esporte está entre aqueles com grande gasto calórico. É uma boa pedida para quem deseja emagrecer – só cuidado para não sobrecarregar o corpo. Converse com um médico.

• Saúde mental em alta: Exercícios em geral liberam substâncias no cérebro que proporcionam a sensação de bem-estar. Fora que a melhora do desempenho e a socialização geram prazer.

• Abaixo os problemas cardiovasculares: Diabetes, colesterol alto e hipertensão são só alguns exemplos de doenças que têm o risco reduzido pela corrida. Atividades físicas inclusive ajudam pacientes já diagnosticados a controlarem condições desse tipo.

• Um hábito puxa o outro: Ao saírem do sedentarismo, muitas pessoas se sentem motivadas a incorporar outras práticas saudáveis no dia a dia, como uma alimentação equilibrada e boas noites de sono.

• Coração em forma: Para dar conta do ritmo da corrida, o coração fica mais forte. Isso afasta certas doenças cardíacas. Mas, se tiver algum problema prévio, é bom falar com um profissional.

• Mais condicionamento: Os pulmões e os músculos ganham resistência a cada passada dada. Isso é importante para realizar diferentes atividades do cotidiano e se preparar para exigências físicas.

O risco do exagero

Apesar de trazer todos os benefícios citados acima, passar do ponto na corrida pode gerar riscos para o corpo e a mente, são estes:

• Lesões e dores: O impacto exagerado sobrecarrega articulações, como joelhos e tornozelos, e tende a machucar músculos e ligamentos. Conclusão: lesões dos mais diferentes tipos, principalmente nas pernas e nas costas.

• Perda de musculatura e rendimento: Se o organismo não tem tempo para descansar, a integridade e a potência dos músculos saem perdendo. Parece estranho, porém muitos treinos pesados comprometem o desempenho.

• Mal-estar e desconfortos: O corpo reclama de treinamentos exagerados. Aí surgem enjoo, tonturas, dores de cabeça e musculares…Esses, aliás, são sinais de que passou da hora de diminuir o ritmo

• Hipoglicemia e queda de pressão: Esses são problemas que surgem quando o corredor exagera em um treino — ou se ele não se hidratou ou se alimentou mal antes. Desmaios e perda de consciência são a consequência e podem ser perigosos.

• Insônia: Seja pelas dores, seja pelo estresse de corridas muito intensas, o organismo pode ter dificuldades para desligar. O pior é que, sem uma boa noite de sono, a recuperação do exercício fica prejudicada.

• Frustração: Não tem jeito: ao abusar, em alguma hora o corpo vai exigir repouso prolongado. Aí a busca por um melhor desempenho vai por água abaixo, o que chateia muitas pessoas.

A corrida também é vista com bons olhos pelos benefícios para o corpo. Diabetes, colesterol alto, hipertensão, ansiedade, depressão… Essas e outras condições são afastadas com a prática regular desse esporte. Ela pode inclusive participar do tratamento de certas doenças. “Mas, como um remédio, tem uma dose ideal”, raciocina Hatano.

O ideal é conversar com um profissional de saúde para saber quanto correr por semana, de acordo com suas características — a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda ao menos 150 minutos de atividade física moderada. Os benefícios vêm aos poucos, com treinos frequentes.

Até por isso, não se apresse. Crie metas realistas e evolua devagar, conforme seu corpo se adapte ao exercício físico. Se você apertar demais o passo, há risco de lesões e outros problemas. No mais, vale conversar com o médico para ver se existe alguma contraindicação ou algum cuidado específico no seu caso.

“Para o iniciante, é bom buscar um tênis adequado e começar com uma caminhada”, orienta Hatano. “Escute música, procure companhia. Tente fazer da corrida uma atividade prazerosa”, conclui. Até porque, no longo prazo, é isso que vai garantir a preferência pela corrida, e não pelo sofá.