Artigos 25.03.2024

Saúde bucal é mais que sorriso branco

O trio formado por fio, creme e escova — se usado com frequência — afasta problemas que vão muito além dos dentes

por Kemilly Abreu

O que é ter uma boa saúde bucal? “Ter todos os dentes inteiros, brancos e sem cárie”, responde a auxiliar de loja Jaqueline Otaviano dos Santos, 33. Realmente, a integridade da dentição é importante, inclusive para a alimentação. “O sorriso também tem um impacto no ponto de vista psicológico. A boca é um cartão de visita”, diz a cirurgiã-dentista Letícia Bezinelli, coordenadora acadêmica da Graduação e da Pós-graduação em Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein. Mas não só. Cáries e outros problemas tratados pelo dentista podem ter consequência no resto do corpo. Por exemplo: um estudo da Escola de Medicina e Odontologia da Universidade Central de Lancashire, na Inglaterra, encontrou bactérias da periodontite no cérebro de pessoas que morreram com Alzheimer.

Ainda não se sabe o real impacto da falta de escovação em casos de demência, porém, segundo Bezinelli, “existem outros estudos que mostram que a má higiene bucal afeta os pulmões e o coração “. Por quê? Ora, as bactérias que habitam a boca são capazes de se espalhar através da circulação sanguínea. Isso preocupa especialmente ao considerarmos que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 3,5 bilhões de pessoas possuem doenças na boca.

Problemas mais comuns

Cárie

É um buraco provocado pelo ácido de bactérias que pode ir desde o esmalte do dente até a sua raiz. O alto consumo de açúcar e a má higiene bucal favorecem o quadro.

Gengivite

Inflamação da gengiva que aparece quando a placa bacteriana não é removida. Pode gerar dor, vermelhidão e sangramento, principalmente na escovação.

Periodontite

Periodontite É uma versão grave da gengivite, em que até o osso do maxilar e outras estruturas de sustentação dos dentes podem ser degenerados. Há o risco de queda dos dentes.

Herpes labial

Infecção pelo herpes simplex, vírus que causa coceira e feridas. Após o tratamento, ele se esconde no organismo, mas pode voltar a gerar sintomas tempos depois. 

Como cuidar da saúde bucal

Creme dental

O mais importante é que ele contenha flúor, que ajuda no combate à cárie e na saúde dos dentes em geral. A exceção fica para bebês, que em alguns casos devem usar a pasta sem flúor — converse com um profissional. Sobre a quantidade, colocar o equivalente a uma ervilha na escova já dá conta do recado. Exagerar pode diminuir o atrito da escova com o dente, o que compromete a limpeza

Escova

Recomenda-se que possua uma cabeça pequena e cerdas macias. A troca deve ser feita a cada três ou quatro meses — ou assim que as cerdas perderem a uniformidade. No mais, não guarde a escova molhada e use protetores com furinhos, que ajudam a arejar as cerdas. Ah, e a escovação precisa durar, no mínimo, dois minutos. Não se esqueça da língua e nada de pular dentes ou pular a parte de trás!

Fio

Existem vários tipos: consulte o dentista para saber qual funciona melhor para você. Aí corte um pedaço e enrole cada ponta em um dedo médio. Com o apoio dos outros dedos, passe o fio entre os dentes e a linha da gengiva. Quando acabar, desenrole uma parte nova e repita o processo nos outros dentes. O ideal é fazer isso em toda escovação — ou pelo menos uma vez ao dia.

Moisés Otaviano dos Santos tem 7 anos e aprendeu a escovar os dentes aos 3 anos com a sua mãe — a Jaqueline do começo da reportagem. Ele confessa, em tom bem humorado, que escova os dentes só uma ou duas vezes por dia. A indicação dos especialistas é de pelo menos três. “Caso isso não seja possível, o ideal é escovar muito bem pela manhã e à noite”, afirma Bezinelli. 

Moisés e Jaqueline cuidam da saúde bucal para manter o sorriso branco e a saúde tinindo

Por outro lado, Moisés diz que utiliza fio dental diariamente. Nesse aspecto, ele faz parte dos 53% dos brasileiros que usam esse item, de acordo com pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Estatísticas e Geografia).

Esse hábito é importante. “Imagine tomar banho, mas deixar um dos braços fora do chuveiro. Como vai ficar esse braço?”, questiona Bezinelli. “Onde a escova não alcança, é a mesma coisa. Sem o fio, partes dos dentes não são limpas”, compara.

E quanto à frequência de idas ao dentista? Em geral, recomendam-se novas visitas entre seis meses e um ano, mas isso depende da situação. Indivíduos com doenças bucais descontroladas podem precisar de um acompanhamento mais próximo. As grávidas também, porque alterações típicas dessa fase favorecem problemas como periodontite. Pior: uma má saúde bucal é associada a riscos maiores de parto prematuro.

Descobrir uma cárie ou outros problemas bucais não é motivo para desespero. Nesse caso, o mais importante para evitar complicações locais ou no resto do organismo é começar o quanto antes o tratamento — o SUS oferece atendimento odontológico. O que não vale é deixar o quadro evoluir: segundo um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 37% dos diagnosticados com cáries no Brasil em 2017 não cuidaram da condição. Aí o sorriso e a saúde perdem o brilho. 

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