dna Ilustração: Braňo/Unsplash
Fala, doutor 31.08.2022

Fala, doutor! Vacina pode mudar o DNA?

Em medicina não existe custo-benefício melhor que o das vacinas

por Luiz Vicente Rizzo

Sabia que 7% do nosso DNA vêm de vírus? Ou seja, 7% do que a gente é hoje foram vírus que os nossos antepassados pegaram, milhões de anos atrás, antes mesmo do surgimento de nossa espécie, o Homo sapiens.

Vírus são feitos para incorporarem seu material genético ao do hospedeiro porque é assim que eles sobrevivem e se multiplicam. Já as vacinas de RNA e de DNA (estas ainda em desenvolvimento) foram feitas para se incorporarem temporariamente ao nosso organismo.

Então não dá para comparar a infecção viral com uma vacina — que fica pouco tempo no corpo, desaparece e ainda melhora a proteção contra doenças.

Além disso, o vírus tem muito mais chances de se incorporar ao DNA do ser humano do que a vacina. A questão (também da medicina e da vida em geral) é o custo-benefício.

Tem risco? Tem, mas os benefícios são muito maiores. Na medicina, não existe nenhuma intervenção médica que tenha um custo-benefício melhor do que a vacina.

O problema é que as imunizações sofrem de um problema estatístico. E o ser humano de modo geral não conhece estatística porque ela é contra-intuitiva, ou seja, não é o que a gente acha que é.

Em medicina não existe custo-benefício melhor que o das vacinas

Se eu pegar um milhão de pessoas e dar um copo d’água para cada uma tomar, algumas vão engasgar. Culpa do copo d’água? Não. Mas eu sei que algumas passarão por essa experiência desagradável.

As vacinas ainda chamam a atenção porque a aplicação é um evento marcante. A pessoa tem que sair de casa, ir ao posto de saúde e receber a injeção. Isso fica na memória, e as pessoas podem achar que tudo que acontece a seguir é culpa da vacina.

Foram 180 milhões de pessoas vacinadas no Brasil. Algumas delas, nos dias seguintes, terão infarto ou acidente vascular cerebral, vão brigar com a namorada, o time de futebol para o qual torcem vai perder… A culpa é da vacina? Não.

Vacinas têm efeitos colaterais, mas são raros. Um certo comprimido que o pessoal toma para evitar ressaca tem risco quase cem vezes maior do que a vacina para causar efeitos adversos, por exemplo.

Temos que tomar muito cuidado ao observar eventos que envolvem milhões de pessoas porque eles trazem essa “malvadeza” estatística. Isso ajuda a criar o mito de que as vacinas não são seguras. Mas fiquem tranquilos, elas são.

Ilustração: Thiago Lyra, com imagens Freepik / Foto: +SQ.

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