Reportagens 14.05.2024

Homens trans: a hora da virada

Conheça o processo de transexualização, que está disponível no SUS, e as particularidades com a saúde de pessoas que passam por ele

por Raphael Batista

Entre 2008 e 2016, o assistente administrativo Yago Neves, agora com 26 anos, teve várias crises de identidade. “Era confuso me encontrar com o corpo que eu tinha na época”, relembra. “Eu não gostava das curvas, dos seios avantajados”, diz o ex-morador de Paraisópolis, que vive hoje no Campo Limpo

Yago é uma pessoa transgênero masculina. “Uma pessoa trans não se identifica com o gênero que recebe ao nascer”, explica Andrea Hercowitz, médica do Hospital Israelita Albert Einstein e estudiosa da saúde de pessoas trans.

“Foi difícil para a minha família entender, mas eu sempre fui assim”, conta Yago, que passa pelo processo de transexualização do Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2016. Depois de um ano de acompanhamento médico e psicológico, Yago começou a tomar testosterona, um hormônio que tornou sua voz mais grave e fez com que ganhasse traços mais masculinos. 

“Com três meses de medicamento, já é possível notar mudanças”, afirma Hercowitz. Depois de um tempo, a pessoa trans pode optar por fazer cirurgias que adequam o corpo ao seu gênero. Em 2021, Yago realizou, pelo SUS, uma mastectomia, que é a retirada de seios. “Foi um momento emocionante”, relata.

Hercowitz alerta que é preciso buscar ajuda profissional para cada etapa da transição. “O uso indevido de medicamentos pode causar efeitos colaterais graves”, diz a médica. Já se realizado com a orientação adequada, a transexualização é libertadora. “Eu tive depressão por causa da identidade de gênero. A transição salvou minha vida”, diz Yago.

Após as cirurgias, é preciso continuar atento a outros aspectos, diz Hercowitz. Homens trans devem se consultar com ginecologistas, assim como as mulheres cis (que se identificam com o gênero designado ao nascer). “Quando marco um ultrassom transvaginal, viro a atração no consultório”, brinca Yago. “Só teve um caso constrangedor em uma clínica particular, onde o sistema não deixava homens marcarem o exame. Mas, no geral, as pessoas ficam curiosas e eu conto minha história”, diz o assistente administrativo.

Assim como as mulheres cis, homens trans podem engravidar – por isso, é preciso considerar um método contraceptivo, caso se relacionem com pessoas que têm pênis. Os anticoncepcionais também ajudam a cessar a menstruação. A vida e os cuidados com a saúde de uma pessoa trans não são iguais aos de uma cis. Mas ser diferente não é ser pior ou melhor que ninguém.

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