
Nefrolo…o quê?
Nefrologista! Pesquisadora revela a importância desse médico, que cuida dos rins, e como tanto a ciência de ponta quanto os bons hábitos de saúde podem beneficiá-los
A cada minuto, os rins filtram 100 mililitros de sangue – mais de 140 litros por dia. Só que esse trabalho de limpeza pode ser comprometido por diferentes problemas. A nefrologista Érika Bevilaqua Rangel estuda há décadas essas condições e as soluções modernas para enfrentá-las. Nesta entrevista, ela conta quais as principais ameaças aos rins, o que a ciência tem feito para lidar com elas e quais hábitos precisamos cultivar para preservar esses órgãos.
Qual a chance de uma pessoa ter uma doença nos rins?
Uma em dez pessoas tem problema renal. Se tem uma suspeita, a UBS tem que encaminhar para o Ambulatório Médico de Especialidades, o AME, e marcar consulta com o nefrologista. Identificamos que alguém tem doença renal com o exame que avalia as taxas de creatinina no sangue e pelo exame que avalia a perda de proteína pela urina (quando ela fica espumosa) ou de sangue.
Quem é o nefrologista, doutora?
É o médico que cuida do rim. Então é o médico que, além da formação básica, se especializou em problemas de rim.
Quais as doenças mais importantes que afetam os rins?
Nas doenças agudas, a gente pode ter uma infecção generalizada, que se chama sepse, que pode gerar uma lesão no rim. Se eu tomar um antibiótico, por exemplo, ela pode melhorar.
E tem os problemas crônicos, que são definitivos, e que normalmente vêm de outras doenças. Quais são as três mais comuns? Diabetes, pressão alta e nefrites [doenças que afetam estruturas dos rins chamadas glomérulos].
Como é o tratamento?
É importante fazer o diagnóstico dessas doenças e realizar o tratamento adequado. Se for pressão alta, dá um remédio para pressão. Se for diabetes, tem outras medicações que estão indicadas
Já se o rim parar de funcionar, eu tenho dois tratamentos: diálise [máquinas que filtram o sangue] e transplante de rim. Se eu não fizer esses tratamentos, há o risco de morrer. Mas, antes de chegar aí, eu posso fazer um monte de tratamentos para evitar que os rins parem de funcionar.
E as pedras nos rins? Elas podem gerar complicações?
Elas podem levar a pessoa a perder o funcionamento dos rins e precisar fazer diálise ou transplante. O que causa pedra no rim? Várias coisas.
O nosso rim é um filtro. Ele retém algumas substâncias e joga fora outras. Se ele acumula certas substâncias em grande quantidade, como cálcio, ácido úrico e oxalato, isso predispõe a pedras nos rins. A gente precisa sempre tratar a causa para evitar as complicações.
Como evitar as pedras nos rins e outras doenças renais? É só tomar água?
Beber água é uma das orientações. Não ganhar peso é outra. Se tiver pressão alta, tomar o remédio direito. Se tiver diabetes, tomar o remédio direito. Não fumar e evitar bebidas alcoólicas.
Hoje é possível modificar células para tratar as doenças renais?
É com isso que eu trabalho. Vamos imaginar uma pessoa que chega a 50% do funcionamento do rim. Como é que eu preservo esse 50% para que ela nunca precise fazer diálise ou transplante?
Eu posso pegar a célula de uma pessoa saudável, uma célula-tronco [células que podem recompor tecidos danificados], e infundir nesse indivíduo com 50% do funcionamento do rim. E essas células-tronco ajudam as células do rim a não sofrerem mais, e com isso preservam o funcionamento de 50%. A gente tem feito isso em animal e vai testar agora em ser humano. A gente quer estacionar a progressão da doença renal.
E tem outra maneira de usar as células para ajudar a preservar o rim. Todo rim tem célula-tronco, e ela pode estar paradinha, quietinha, ou estar se multiplicando. Eu posso estimular a multiplicação das células-tronco usando algumas medicações. A célula-tronco consegue melhorar a inflamação, então ela ajuda as outras células que estão no rim a sobreviverem.