Reportagens 02.09.2022

Um lugar de todos

Moradora de Paraisópolis, Solange Santos conheceu o Caps e entendeu que tinha depressão

por Redação +SQ

Crises de choro, tristeza profunda, sensação de desespero e angústia. Era assim que Solange Santos, 41, se sentia em momentos de crise. Com a saúde mental abalada, a moradora de Paraisópolis não entendia porque estava daquele jeito. Mas esse era um tema sobre o qual ela não falava com amigos e familiares, pois tinha medo de ser chamada de louca. “Eu mesma tinha um pouco de preconceito”, diz.

Eu não sabia do Caps, nunca soube nem como funcionava. Eu melhorei muito depois que passei por lá. Entendi que eu não sou louca, eu tenho depressão

Solange, paciente e integrante do conselho do Caps

No auge das crises, antes de começar a se tratar, Solange conta que tomava cartelas de remédio para dormir por dias e escapar do sofrimento. Além disso, não sabia que esse hábito poderia desencadear outros problemas de saúde.

Ela só foi entender o que estava acontecendo depois que começou a frequentar o Centro de Atenção Psicossocial Adulto (Caps) Paraisópolis. “Eu não sabia do Caps, nunca soube nem como funcionava. Eu melhorei muito depois que passei por lá.Entendi que eu não sou louca, eu tenho depressão.” O processo de descoberta não foi fácil. Primeiro, os irmãos de Solange a internaram em um centro psiquiátrico no M’Boi Mirim, onde ficou por vinte dias. “Uma experiência legal”, comenta. Depois, teve uma recaída e voltou a tomar remédios. Então, ela mesma foi ao Caps buscar ajuda. “Não é um lugar de loucos, é um lugar de todos, com pessoas prontas para atender e acolher quem precisar de ajuda”.

Atualmente, Solange diz que se sente bem. Ela inclusive passou a fazer parte do conselho cidadão do Caps. Não se trata de um cargo ou emprego, mas uma ponte entre a unidade de saúde e a população de Paraisópolis. Sua função é falar com as pessoas que não estão bem, que se sentem tristes ou precisam de ajuda, e convidá-las a conhecer o espaço.

Ela conta, porém, que muitos ainda acham que é um lugar em que a pessoa vai ser presa e posta em uma camisa de força. “Quando eu convido as pessoas, algumas ficam com medo, acham que vão ser amarradas. Mas não é nada disso, o Caps é espaço para espairecer, tomar um café, passar o tempo e brincar. Não é para ficar preso numa jaula”.

Fotografia: Fabio H. Mendes

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