

O impacto das lesões no trabalho
Doenças e acidentes relacionados ao emprego podem comprometer a vida dos trabalhadores, principalmente ao alcançarem idades mais avançadas
por Silvia Pessoa
Doenças e acidentes relacionados ao emprego podem comprometer a vida dos trabalhadores, principalmente ao alcançarem idades mais avançadas
A busca por independência na vida adulta e maior bem-estar passa por encontrar um trabalho. Mas o mesmo trabalho pode, principalmente se não forem respeitadas normas de segurança, causar lesões que tiram a autonomia das pessoas ou prejudicam sua qualidade de vida.
Os profissionais com maiores índices de lesão são os que realizam movimentos repetitivos e muito esforço. São operários de obras e máquinas, faxineiros, operadores de caixa etc.

Segundo a fisioterapeuta Adriana Sarmento, doutora pela Universidade de Toronto, no Canadá, alguns problemas começam a aparecer décadas depois: “A pessoa que precisa suprir financeiramente muitas vezes não procura o tratamento adequado. Aí vai envelhecendo com dor e com a mentalidade de que é normal sentir esses desconfortos na vida idosa”.
A demora no início do tratamento dificulta a recuperação plena de lesões, que se agravam com o passar do tempo. Para piorar, as dores podem fazer a pessoa cair na inatividade física. “O sedentarismo é um dos principais fatores para doenças crônicas, como diabetes e hipertensão”, arremata Adriana.
Ela também aponta que as empresas devem criar um bom ambiente de trabalho, mas destaca que cada indivíduo deve assumir um papel de protagonista em sua própria saúde, buscando especialistas e fontes confiáveis de informação. “Assim nós construiremos um Brasil mais saudável, consciente e longevo”, completa. Pessoas com queixas de lesões ligadas ao trabalho podem buscar cuidados nas UBS.
Depoimento de Maria Helena Ferreira
67 anos, aposentada, moradora de Paraisópolis
Mãe solteira, ela trabalhou em três empregos ao mesmo tempo para sustentar seus três filhos. “Na escola em que trabalhei, era enceradeira, limpava as paredes, vidros, as lousas, carteiras e varria as salas. Tenho bico-de-papagaio, bursite e coluna torta. Isso tudo foi no trabalho que eu peguei, de tanto esforço que fazia.” Algumas vezes, Helena teve que tirar licença para se cuidar. Ela conta que passou sete anos na Justiça até que a empresa reconhecesse que aquele serviço prejudicou sua saúde. “Demorou, mas ganhei a causa”, conta.
Depoimento de José Silva Pessoa
50 anos, aposentado, morador de Paraisópolis
“Já trabalhei como carpinteiro, armador, encanador, pintor, faxineiro, porteiro, zelador, soldador. De tudo um pouco. Depois que eu parei de trabalhar, vieram as dores nos tendões do braço. Meu ombro ficou desgastado, e a médica falou que foi por causa dos pesos que eu pegava”, conta. Além disso, José teve descolamento de retina aos 45 anos, o que resultou em um quadro irreversível de deficiência visual. Ele revela que nunca recebeu treinamento no trabalho e dificilmente utilizava equipamentos de proteção individual (EPI).