

É de pequeno que se espanta o sedentarismo
Estimular a vida ativa desde cedo promove saúde, diversão e noções de cidadania
por Daniel Guimarães
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pede pelo menos 60 minutos por dia de atividade física aeróbica para crianças e adolescentes. Isso para estimular o desenvolvimento
saudável e promover a qualidade de vida. Infelizmente, dados do IBGE de 2019 apontam que cerca de metade das crianças brasileiras está acima do peso, o que sinaliza para a falta de movimentação.
Para a médica Patrícia Guedes de Souza, da Sociedade Brasileira de Pediatria, a atividade
física deve ser incentivada desde os primeiros meses de vida: “Existe uma recomendação que o bebezinho seja estimulado mesmo antes de engatinhar, com movimentos nos braços, pés e cabeça”. Ela destaca que vale colocar o bebê no chão para que ele tente se arrastar.
Conforme a criança vai envelhecendo, os pais devem incluí-la em atividades domésticas ou de lazer que envolvam movimentação. O importante é que sempre haja um aspecto prazeroso, que desperte a curiosidade dos jovens por um estilo de vida ativo.
É também com essa visão de estimular a prática esportiva desde a infância que, em 2004, surgiu em Paraisópolis o projeto Rugby para Todos. Ele aproveita espaços da comunidade para ensinar essa modalidade ainda pouco praticada no Brasil a crianças e adolescentes. Em 2023 e 2024, a meta é alcançar 350 alunos, de 7 a 18 anos.
Cidadania
O Rugby para Todos valoriza conceitos como cooperação e disciplina e enfrenta problemas sociais. O profissional de educação física Edmur Antonio Stoppa, professor da Universidade de São (USP), vê no esporte esse potencial. “É possível tirar jovens de situações que estimulam a criminalidade”, exemplifica. Segundo ele, o Estado deve pensar em políticas públicas que promovam a prática esportiva.
Gideão da Silva Idelfonso, bacharel em Lazer e Turismo pela EACH USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo), conta como a própria comunidade de Paraisópolis passou a buscar soluções que driblassem as limitações locais. “A partir dos anos 2000, os moradores passaram a ser os vetores das melhorias, inclusive para questões educacionais e de saúde”, analisa.
Foi nessa fase que surgiu o Rugby para Todos, que virou objeto de estudo de Gideão em seu trabalho de conclusão de curso na USP. “Esse projeto é um exemplo real da mudança que o esporte faz na vida de jovens da periferia”, ressalta.
O projeto não é feito apenas de aulas de rugby. Em 2023, está previsto todo um acompanhamento psicológico, social e nutricional, além de dinâmicas de grupo e visitas a escolas públicas. A partir do esporte, é possível desenvolver atividades benéficas para a comunidade em diferentes esferas.
Atividade física na escola
As aulas de educação física devem ser valorizadas, segundo a pediatra Patrícia Guedes de Souza. Elas servem tanto para fazer os jovens se exercitarem como, principalmente, para iniciá-los no mundo das atividades físicas. Além da prática em si, professores deveriam trazer conceitos teóricos e a importância do movimento para a saúde e a história da humanidade.