

A ciência está no seu dia-a-dia
Com o método científico enfrentamos a pandemia de Covid-19

por Redação +SQ
Todo dia o Sol nasce, e, todo dia, um pouco antes de o Sol nascer, Geraldo, o galo do seu Firmino, canta bem alto, anunciando alvorada para a vizinhança.
Será que o Sol só nasce porque Geraldo canta? Será que, sem o canto do galo, todos ficaríamos na escuridão?
Certo dia, Geraldo, já velhinho, virou canja. E o Sol continuou a nascer. Conclusão: não é por causa do canto do galo do seu Firmino que o Sol nasce. Deve haver algum outro motivo.
A história é curtinha, mas representa bem o que é possível aprender com o método científico. Esse exemplo mostra por que não podemos assumir como verdade uma percepção inicial — no caso, que o galo era quem “chamava” o sol.
Podemos aprender muito com a ciência, uma forma de entender o universo que se baseia em lógica, observações, perguntas, previsões e experimentos.

Foi esse tipo de abordagem que permitiu que, em poucas semanas, soubéssemos o que estava por trás da então misteriosa epidemia de pneumonia na região de Wuhan, na China — o hoje mundialmente conhecido Sars-CoV-2, coronavírus causador da covid-19.
Decifrado o código genético do vírus, que guarda instruções de como ele pode infectar e se multiplicar, foi possível começar a pensar que tipo de tratamentos ou vacinas conseguiriam combater casos graves e evitar mortes — sempre com perguntas baseadas em observações da realidade.
Por exemplo: se houver um jeito de impedir que as espículas que formam a coroa do vírus (daí o nome “coronavírus”) se liguem às nossas células, será que conseguimos impedir ou frear a infecção? A resposta que os cientistas encontraram foi afirmativa. Com base nisso nasceram muitas das vacinas que temos hoje.
O conhecimento científico é construído pedaço por pedaço. E nada é totalmente imutável ou inquestionável. Apesar do que aprendemos sobre a pandemia de covid-19, demorou até entendermos que existem variantes e que as pessoas podem pegar a doença mais de uma vez.
Agora estamos começando a entender quais são as implicações da chamada covid longa, com efeitos se manifestando bem depois da infecção propriamente dita. Pode haver dificuldade para dormir, dores musculares, alterações no ciclo menstrual, entre muitas outras. Como tratá-la? Cientistas ainda estão na busca.
O paradigma científico, a “verdade” de cada momento, é desafiado repetidamente com novas observações, previsões e experimentos. Se esse paradigma resistir, ele ganha força, se ele ruir, abre-se espaço para explicações alternativas.
Mundo afora, sociedades e governos tentam garantir o presente e o futuro por meio do desenvolvimento científico. Sabe por quê? Porque em ciência não existe compromisso com ideologias, dogmas ou crenças. Questões científicas se dão sobre fatos, sobre dados, sobre perguntas as quais podemos testar.
O que não quer dizer que cientistas, individualmente e em grupo, não errem. Só que esses erros podem ser corrigidos, se houver evidências para isso. A sensação pode ser mais ou menos como trocar o pneu com o carro andando — melhor do que um carro que não leva para lugar algum.
Boa parte dos problemas da humanidade, da descoberta de tratamentos contra doenças à despoluição de rios e oceanos, a ciência pode ajudar a resolver. Longe de serem questões fáceis — não são. Mas, se com a ciência ao nosso lado já é difícil, sem ela seria impossível.
ILUSTRAÇÕES Daniel Carvalho