Artigos 08.02.2024

Imunoterapia: tratamentos que fazem o próprio corpo combater o câncer

O pesquisador Kenneth Gollob revela o potencial desse tratamento e como a ciência pode contribuir para que ele chegue a mais brasileiros

por +Saúde na Quebrada

Reconhecido por pesquisas que buscam entender o sistema de defesa do organismo para criar soluções contra diferentes doenças, Kenneth Gollob hoje coordena o Laboratório de Imuno-oncologia Translacional do Einstein. Lá, ele e sua equipe trabalham para aprimorar o tratamento contra o câncer e, por meio da ciência, ampliar o acesso dos brasileiros a medicamentos de última geração. Nesta entrevista, concedida aos repórteres da +SQ, o americano, nascido em Denver, explica, em bom português, o que é a imunoterapia e como ela pode contribuir para o enfrentamento de tumores.

O que é a imunoterapia?

O sistema imunológico, que forma as defesas do corpo, é especializado em reconhecer e atacar coisas estranhas, como vírus, bactérias ou até células de câncer. É o que a gente chama de resposta imune do corpo. Mas, às vezes, a resposta imunológica fica desativada em pessoas com câncer. Ela está lá, mas desligada. A imunoterapia tenta reativar a nossa resposta contra o câncer. A ideia é reativá-la para que o sistema imunológico mate as células de câncer.

Quais tipos de imunoterapia possuímos hoje em dia?

Há alguns tipos. Temos, por exemplo, os inibidores de checkpoint. Você injeta o medicamento no paciente e ela bloqueia os sinais que estavam inibindo a resposta imune. Tem também a CAR-T. Nesse tratamento, você tira um tipo de célula de defesa do paciente — o linfócito T — e aí modifica essa célula no laboratório para atacar o câncer. Então você reinjeta no paciente. Hoje a CAR-T é usada contra linfomas e leucemias, que são cânceres no sangue.

A imunoterapia pode ser mais eficaz que outros tratamentos?

Ela é mais específica do que a quimioterapia e a radioterapia, então você age bem no alvo. Isso pode gerar maior eficácia e menos efeitos colaterais.

Esse tratamento pode ser aplicado em todo tipo de câncer?

Em vários, mas não em todos. O médico verá se o paciente é um bom candidato para a imunoterapia. Uma das nossas pesquisas quer justamente ampliar o uso da imunoterapia e deixá-la mais acessível, porque é muito cara.

Como o paciente tem acesso à imunoterapia no Brasil?

A gente quer aumentar o acesso dos inibidores de checkpoint dentro do SUS. Hoje, eles não estão disponíveis de modo geral. Nós encontramos substâncias dentro do corpo, que chamamos de biomarcadores, que indicam qual a chance de a pessoa responder à imunoterapia. E isso reduz o custo, porque você só aplicaria o tratamento em quem tem maiores chances de responder. Nós já identificamos esses biomarcadores, mas precisamos de mais estudos para confirmar nossas descobertas.

O que mais ajuda no tratamento contra o câncer?

A melhor coisa é o diagnóstico precoce. Quando você identifica um tumor no começo, a chance de sobrevida é alta. Se ele avança, as chances vão piorando.

O que ajuda a prevenir o câncer?

A estratégia número um é fazer atividade física. Uma boa alimentação e não fumar também reduzem o risco, assim como limitar o uso do álcool e tomar a vacina contra o HPV. E também tem a exposição ao sol sem usar protetor, que pode causar câncer de pele.

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